[A Princesa da Árvore] Prólogo
sábado, 10 de março de 2012
Eu tinha 11 anos quando a minha mãe morreu. Ela era tudo para mim, tudo o que possuía e que pudesse se chamar, sem mentiras, de família. Portanto, não tardou para que as tias de linhagem distante e mais velhas, penalizadas, oferecessem-me ajudas que se resumiam a palavras e promessas vazias. Pode contar comigo para o que precisar. Você não está desamparado, diziam, enquanto me abraçavam e enchiam minhas faces com beijos vermelhos, borrando minhas maçãs rosadas de rubro. O perfume forte e sempre muito doce delas impregnava em minhas roupas e em minhas narinas. Era difícil livrar-me de tais manchas e aroma.
Um mês depois, eu estava sozinho. Ninguém aparecera para cumprir suas promessas.
Disseram-me, então, que minha mãe estaria sempre por perto de mim, protegendo-me e guiando meus caminhos. Isso me animou e acalentou minha dor incurável. Tentei manter contato com ela todas as noites. Fechava meus olhos e a imaginava, desejando veementemente que aparecesse, se personificasse, para que pudéssemos desfrutar de algumas horas de conversa e carinho. Entretanto, ela nuca veio.
Aí tentei ficar mais próximo de Deus. Procurei fazer amizade com Ele, conversava com o nada, imaginando que o todo poderoso me escutaria. Após inúmeros monólogos com a parede, pedi que o Senhor entrasse em contato comigo, manifestando, assim, sua existência divina. Mas Deus, também, nunca escutou meus apelos. Jamais se pronunciou.
Depois, desisti.
Então o ceticismo surgiu, matando minhas esperanças infantis e corroendo minha fé. Deixei de acreditar em muita coisa. Parei de crer nas pessoas, no imaterial, no divino. Minhas leis seguiam a lógica da selva. Era preciso aprender a sobreviver no inferno terreno e esquecer a existência do paraíso. Porque essa era a verdade universal: o inferno está aqui, e os demônios somos nós mesmos.
E demônios não sobem aos céus.